A realidade dos carros autónomos e a promessa dos voadores
O futuro já passou quando terminar de ler esta frase. Este é um dos pressupostos da tecnologia que está em constante mudança. Por essa razão, é possível a empresas como a UBER prometerem, em pleno WebSummit, carros voadores já para o ano de 2020.
Talvez este futuro demore um pouco mais a chegar, não no conceito mas na sua implementação. Há muitas variáveis e, apesar dos testes e avanços que a indústria tem feito nestes últimos anos, a segurança das pessoas tem de estar sempre em primeiro lugar. Tal como é difícil depositar total confiança num carro autónomo, e os testes já estão a decorrer há alguns anos, os carros voadores dificilmente estarão disponíveis antes de haver consenso relativamente à segurança e, acima de tudo, ocupação do espaço aéreo.
Basta recordar que nas estradas há quem goste de circular entre duas faixas. No ar, com um carro voador, é preciso assegurar que estes condutores se mantêm dentro das regras. Além da carta de condução, será necessária uma licença para voar. São demasiadas variáveis para alguém poder afirmar que em 2020 haverá carros voadores a circular. Mesmo com condução autónoma.
Com a conectividade entre veículos, vai ser possível ainda prevenir uma série de acidentes causados por distração humana.
Como é óbvio, já existem testes com alguns modelos e as empresas que têm capacidade para investir estão a posicionar-se para estar na frente deste futuro. E, eventualmente, poderá haver um determinado percurso de teste que possa servir de rampa de lançamento para a tecnologia. Mas 2019 está a chegar e regulamentar tudo isto vai ser algo moroso e complexo.
Porque, se olharmos bem para a História, há décadas que se tentam criar carros voadores. E como o cinema é sempre uma fonte de inspiração, já em 1968 o famoso Chitty Chitty Bang Bang mostrava um carro voador.
Já existem modelos em teste, e a funcionar. O Pal-V-One; o Transition, da Terrafugia; o Maverick, da I-TEC, que recorre a um parapente para voar, ou o Aeromobil 3.0. Mas, tendo em conta as vantagens, serão os carros que consigam levantar voo e aterrar na vertical os vencedores desta batalha. É fácil perceber as razões. O espaço necessário para um carro levantar voo e aterrar como um avião, impedem o recurso a estes veículos. Afinal, o objetivo é poder levantar e aterrar junto do local de residência e de trabalho, ou até no supermercado.
E, protótipos como o veículo da Terrafugia, são pouco mais do que uma avioneta com um design diferente. Por isso, a empresa está a investir num sistema que permita as decolagens e aterragens na vertical.
Se para poder levantar voo tiver de ir a um aeroporto...
Segurança
A navegação autónoma de um carro voador é algo que já existe. Basta aplicar os sistemas de navegação dos aviões comerciais que já funcionam com piloto automático há uns anos. Mas, mesmo assim, com pilotos experientes, é preciso estar preparado para assumir os comandos a qualquer momento. Lá em cima, quando surge um problema, não basta encostar na berma da estrada.
Se for feita uma sondagem, será fácil perceber que a maioria acredita que em poucos anos os carros voadores estarão mais vulgarizados, tornando realidade a ficção.
Por isso, por enquanto, é preciso focar na realidade mais próxima, nas viaturas autónomas, no conhecimento já adquirido e testes realizados em situação real. Com a conectividade entre veículos, vai ser possível ainda prevenir uma série de acidentes causados por distração humana.
A maioria dos veículos mais recentes possuem tecnologias que ajudam em algumas situações e já são raros os carros vendidos sem sensores, travagem ativa (sistema que trava automaticamente o veículo em caso de distração numa fila de trânsito, por exemplo), sensores que "leem" a estrada e mantêm o veículo dentro da faixa de rodagem. Uma infinidade de sensores que permitem às marcas obter dados relativamente a hábitos de condução e resultado no desgaste e consumo dos veículos.
Atualmente, já é possível fazer a gestão preditiva de uma frota de veículos, por exemplo. Apenas com recurso a um pequeno aparelho de fácil instalação, um cartão 4G e conectividade, é possível reunir e analisar todos os dados enviados pelas dezenas de sensores existentes num veículo. Um algoritmo e a Inteligência Artificial fazem o resto do trabalho avisando, atempadamente e em tempo real, um gestor de frota sobre o estado de um camião, sugerir causas e medidas a tomar e até dar uma previsão dos custos para cada uma das alternativas. Isto já existe.
Por isso, os veículos autónomos são uma realidade enquanto os voadores continuam a ser uma promessa. Se houver uma sondagem, será fácil perceber que a maioria acredita que em poucos anos os carros voadores estarão mais vulgarizados, tornando realidade a ficção. Mas é algo para um futuro mais longínquo do que 2019 ou 2020. Lá chegará o tempo em que a família comum irá viver ao estilo Jetson (filme de animação da década de 60).
Para absorver as necessidades de toda esta tecnologia, em constante comunicação, com cada veículo a enviar centenas de GB de dados por segundo, as redes de telecomunicações também precisam de evoluir. E é neste sentido que a rede 5G é crucial. O 4G+ e 4,5G já permitem velocidades elevadas mas para este tipo de comunicação, integrada no mundo da Internet das Coisas, é preciso mais capacidade, mais velocidade, mais resiliência e latência praticamente nula. Uma fracção de segundo é a diferença entre evitar um acidente ou colocar vidas em risco. E a latência da rede 5G é reduzida ao mínimo, permitindo ações quase imediatas, na casa do milissegundo.
A evolução da tecnologia continua a um ritmo alucinante e neste momento, nem o céu será um limite. Talvez não seja em 2019, nem 2020, mas é garantido que os carros vão levantar voo.
Isto terá impacto nas rotinas diárias das pessoas mas também das empresas que poderão adaptar-se a este novo sistema de transporte para potenciar os negócios.